Epílogo

- Mas eu tenho medo.
- Do que você tem medo?
- Não sei... eu só queria que você fosse paciente.
- Sou muito paciente... Mas tudo tem limite.

Nas cenas do filme  de onde este dialogo foi arrancado, uma criança que por merecimento ou por pura caridade tenha acabado de ganhar um brinquedo, não qualquer brinquedo. Ela acaba de ganhar o mais caro, e talvez por consequência disso seja também um dos mais complexos de se brincar. Mas ela não perdeu a vontade de desfrutar daquela peça entre suas mãos, ela tenta, ela por horas apenas observa e vai com o tempo, conseguindo a confiança necessária para começar a brincar sem receio de danificar sua nova realização.
Por puro altruísmo ele resolve dividir um pouco da felicidade com um amigo, mas é ai que se encontra o problema, já que existe a pressa do amigo para que ambos se divirtam, juntos, enquanto o garoto com medo do que pode acontecer a seu brinquedo tenta explicar ao companheiro como que manuseia o brinquedo.
O amigo irritado desiste, já não o interessa brincar com um brinquedo em que mal pode tocar, chega a conclusão de que aquilo não o alegrará, não o fara feliz e se vai.  Mas tudo poderia ter sido diferente ali, muitos “ e se”, mas de nada valem, já que o brinquedo continua intacto, e ambos não brincam mais, um deles por puro desinteresse, o outro por ter chegado a conclusão de que aquilo não era um brinquedo que oferece diversão quando se brinca sozinho. Talvez uma metáfora tão grande já não valha mais nada, mas pode fazer com que as dores da realidade sejam amenizadas.

Quando me presentearam com um algo complexo não me disseram também que eu teria que ser autodidata, que tudo dependeria tanto de mim, e tão rápido. Talvez o que disse anteriormente tenha parecido o cumulo do egocentrismo, talvez eu tenha assistido 500 days of summer mais vezes do que deveria. Mas talvez eu também possa ter sido um personagem de filme clichê de comedia romântica, que se fez de cego perante a situação em que se encontrava, que por pura distração deixou todos as oportunidades o golpearem em cheio ao estomago, para só depois irem embora. Infelizmente não vivemos um filme, não existem roteiros premeditadamente calculados para se concluírem de forma feliz.
Eu brinquei com a dramaturgia, eu deixei as oportunidades passarem, eu fui fraco, eu soube pedir ajuda mas não soube a hora de aceita-la, eu demorei demais, eu esqueci as falas essenciais, esqueci de fazer meu papel, talvez eu apenas não tenha percebido que nestas cenas não podem existir monólogos.
Eu criei uma situação em que clichês não são eficientes, alias, eles não existem. Não adianta sentar num sofá chorando ao som de all by myself, correr em câmera lenta em direção ao beijo de reconciliação no meio de um saguão de um aeroporto lotado, ninguém vai me aplaudir se eu disser que errei, em meio a uma multidão que parou ao nosso redor. Meus créditos finais já estão passando na tela. E eu não estou deprimido por tais cenas não serem refeitas. Mas não negarei que pequei em não exercer meu papel, de não ser quem eu realmente deveria ter sido, ter sido eu.
É o momento de praticar o desapego. Juro que começarei isso o mais breve possível, preciso apenas de uma pequena confirmação, mas nada que interfira no desfecho da situação. Seguirei escutando as mesmas trilhas sonoras, frequentando lugares que sei que são comuns, não por sadismo, mas porque não estarei ofendendo e nem serei ofendido, sou adulto suficiente pra não tomar atitudes que mudem meus princípios. Quero um epilogo justo, ate porque como me disseram uma vez, “acabou antes de começar”, e os créditos ainda não chegaram ao final, mas as luzes  estão se acendendo. 

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